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Coaching financeiro por Future Proof
Como apoio a essas sessões tenho escrito bastantes artigos. Este é um desses artigos.
Diversificação e correlação entre fundos
Diversificação é mais do que o simples conceito de "não colocar todos os ovos na mesma cesta". Embora esse conceito não esteja errado é demasiado abrangente e simplista.
Por outro lado alguns investidores acabam por comprar imensos fundos/ETFs pensando que estão a diversificar quando no fundo a variação entre eles é pouca e pouco trás para a carteira de investimento em termos de diversificação.
Assim sendo, há alguma forma de saber se a carteira está realmente diversificada? Quantos ovos se deve meter em cada cesta? Um dado ETF trás de facto valor extra para uma carteira em termos diversificação. A resposta, como veremos mais adiante, é afirmativa para todos os casos.
Em relação à primeira questão, existe de facto algo que nos permite quantificar matematicamente se a combinação de determinados fundos cria diversificação e quanta diversificação cria.
Para isso temos primeiro de compreender o conceito de correlação. Correlação mostra a "ligação" entre os retornos dos activos. Não seria bom quando um fundo descer o outro subir? Umas das melhores formas de quantificar a correlação com base no coeficiente de correlação de pearson. Este coeficiente vai de -1 a 1. Um valor de -1 diz-nos que a relação entre os retornos dos fundos é exactamente oposta, ou seja, quando um fundo sobe o outro desce. Por outro lado um coeficiente de 1 diz-nos que a relação é perfeita, ou seja, ambos sobem ou descem em simultâneo. Um valor próximo de 0 diz-nos que não há uma relação directa entre os retornos.
Idealmente vamos querer fundos com a correlação mais negativa possível para uns compensarem os outros. Contudo isso nem sempre é possível, e uma carteira que combine vários fundos com uma correlação próxima de 0 é, normalmente, uma situação realista e relativamente boa.
Vamos agora exemplificar graficamente esta relação. Para esse efeito irei usar dois ETFs americanos, principalmente devido a serem os exemplos perfeitos para demonstração do efeito diversificação, o SPY (ETF que segue o índice accionista S&P 500) e o TLT (que é composto por obrigações americanas de longo prazo).
Os valor de início e fim dos activos acima são parecidos, ao longo de pouco mais que dez anos. Ambos os fundos apresentam, por isso, rentabilidades semelhantes. Contudo, ambos apresentam caminhos diferentes.
Qual dos fundos prefeririam? O TLT parece menos volátil mas a verdade é que no início de 2009 teve uma queda, nada simpática, dos 190 para os 140 dólares. Podemos ver, contudo, que enquando o SPY caiu na segunda metade de 2008 o TLT subiu bastante. Este comportamento divergente pode também ser visto na segunda metade de 2011 e primeira de 2012.
Calculando o coeficiente de Person conseguimos confirmar se as nossas impressões estão correctas.
O que é que é que acontece quando temos este tipo de correlação negativa (abaixo de -0.2)? É o ideal para a criação de uma carteira.
Uma carteira 50/50 apresenta assim uma performance melhor do que cada fundo individualmente, não porque teve maior rentabilidade, mas porque teve menos risco e menores quedas para obter a mesma rentabilidade dos fundos individualmente. O período após 2010 (inclusivé) mostra isso perfeitamente. Apercebemo-nos, intuitivamente, que a linha a preto é a mais suave (menos volátil).
Vamos então calcular a tabela de performance dos fundos e do portfolio:
Podemos ver que o CAGR (rentabilidade anualizada) é uma média de ambos mas o desvio padrão/StdDev (volatilidade) é significativamente inferior no Portfolio. Isso acontece exactamente porque um dos fundos sobe quando o outro desce, suavizando a performance. O Max DD (queda máxima) do portfolio foi também inferior a qualquer dos fundos individualmente.
A diversificação, feita correctamente é mesmo isso, uma diminuição do risco sem prejuízo da rentabilidade obtida. Naturalmente o portfolio apresenta um rácio de sharpe (rácio entre o retorno e o desvio padrão, sendo que quanto maior melhor) bastante mais elevado do que qualquer um dos fundos individualmente, pois obteve a mesma rentabilidade com menor risco.
No post a seguir vamos ver uma ocasião em que não funcionou assim tão bem, com os mesmos ETFs, e aprender que as correlações são dinâmicas ao longo do tempo.
Para verem o artigo em HTML e com gráficos interactivos: https://analises-do-investidor.s3.eu-we ... fication_1
Diversificação e correlação entre fundos
Re: Diversificação e correlação entre fundos
É curioso ver que num espaço temporal de 10 anos o SP500 teve a mesma performance que o TLT e ainda há quem diga que as bonds rendem pouco e não acrescentam valor numa carteira etc, etc....
Seria interessante ver também os resultados em outros espaços temporais porque existem períodos em que os caminhos destes dois ativos se afastam e de que maneira.
Seria interessante ver também os resultados em outros espaços temporais porque existem períodos em que os caminhos destes dois ativos se afastam e de que maneira.
Re: Diversificação e correlação entre fundos
Foi um período completamente escolhido a dedo para apresentar uma diversificação perfeita. Há um período destes com 30 anos entre as bonds de 20 anos (estilo TLT) e o S&P 500. Um dia publico algo com mais longo prazo. Mas deu origem a um artigo do NYT ou WSJ. Acho que foi de '89 a 2019.
Este é o primeiro de muitos artigos. Se o objectivo é educar claro que vou ter de mostrar quando as coisas não funcionaram em termos de diversificação ou as diferenças de rentabilidade a longo prazo. Lembra-te que este período foi no meio de um bull market obrigacionista que durou 40 anos e apanhou o período em que as obrigações teoricamente tiveram o maior boost, com as políticas para lutar contra a Great Recession (2008).
EDIT: Encontrei um bom artigo sobre este tema: https://awealthofcommonsense.com/2020/0 ... at-stocks/
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